II LAWCN 2019

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Gostei da foto

Pois é pessoal,

mais uma notícia sobre o Instituto, agora na revista Veja. O legal é que a minha foto ficou bem bonita. Ali estou montando uma matriz de eletrodos para SI no laboratório de Neuroengenharia que montamos aqui no Centro de Estudos e Pesquisa Professor César Timo-Iaria.

Aqui vai a foto:




E aqui vai o link para a reportagem:

http://veja.abril.com.br/020408/p_108.shtml

Um forte abraço a todos!

Vinícius

terça-feira, 10 de junho de 2008

Homeopatia e outras superstições

Caríssimos,

como é bonito percorrer os diversos episódios dessa vida. Em breve postarei aqui a resposta que dei a um grande e querido amigo espírita. Nela, comento que meu pensamento ateu não é novo, mas sim vem sendo construído e elaborado, aos poucos e solidamente, desde do ano de 2003. Mas, é verdade, a oficialização e declaração da minha postura cética é recente, pois só recentemente reuni elementos suficientes que me permitissem uma convicção nível 6,5 na escala Dawkins de ateísmo (vide Deus: um delírio, Richard Dawkins) necessários para uma argumentação positivista à altura do que esse mundo supersticioso precisa.

Hoje acho que fui sábio em manter minhas então infantes convicções atéias sob uma capa de agnosticismo ou mesmo religiosidade displicente até que ela adentrasse sua fase madura. Fiz como o jardineiro que cerca a mudinha para que ela se proteja do vandalismo até se tornar um robusto e resistente tronco de árvore.

Pois bem, não havia completado umas 2 semanas em que eu havia retirada a cerquinha das minhas convicções céticas para que me defrontasse com o vandalismo da peudo-ciência: a homeopatia. Fiquei de fato satisfeito ao perceber a resistência desse novo tronco, alimentado com os nutrientes da inteligência científica, como o kit de detecção de mentiras e a necessidade da evidência de Sagan, ou a humildade do verdadeiro cientista que reconhece seu erro de Dawkins.

Enfim, foi numa mesa de bar que me deparei com uma médica homeopata. Tenho a tendência em colocar aspas em torno de médica, pois homeopatia em não sendo ciência não pode ser medicina. Mas, não posso julgar essa pessoa, pois que ela também é pediatra e, nada sei sobre suas qualidades profissionais. Em recebendo o título de médica doutora e tendo um CRM, acho melhor convir que é boa profissional, ao menos na pediatria.

Comecei fazendo o dever de casa: inteirar-me mais do assunto. Sem nunca perder as boas maneiras (importa dizer que, apesar disso, recebi ofensas diretas e pessoais da contraparte no calor da discussão que se seguiu), comecei com uma exaustiva indagação acerca dos princípios dessa "terapêutica" (aqui sim me sinto a vontade com as aspas). Quis saber como ela é realizada e quais as bases para a pescrição de uma determinada medicação homeopática. O que eu escutei foi, basicamente, a descrição de uma sessão de psicanálise, ainda que não recebesse essa denominação. Destaco o fato da ostentação na argumentação, com o objetivo, na minha opinião, de afastar e intimidar o não iniciado. Estavam irritantemente presentes assertivas do tipo: "é um processo complicado", "trata-se de uma investigação profunda e completa do indivíduo, que necessita de muito treinamento para ser feita", "ela avalia a origem real, psíquica do problema", "indaga de forma integral o ser e sua doença" e daí por diante.

Segui querendo saber quais os princípios, ainda que em teoria, ainda que sob a espera da experimentação, do funcionamento da homeopatia. Confesso que fiquei horrorizado com as respostas que recebi: um verdadeiro amontoado desconexo de palavras e expressões do metiè científico, cujo leigo não é capaz de compreender o significado, típico das melhores táticas de mistificação (obrigado Sagan, muito obrigado pelo kit!!!). Coisas do tipo do tipo "dinamização quântica da moléculas de água que se chocam nas paredes do frasco e liberam sua energia ativa". Por sinal, sinceramente, acho que elaborei melhor aqui do que fez a dita especialista em homeopatia em nossa conversa de bar (seria menos constrangedor que ela se declaresse uma novata no assunto). Como assim dinamização? Quântica? Dinamização quântica??? Fico dando nó nos meus neurônios tentando entender o que isso significa... tentando sequer achar um possível significado, ainda que mal expresso pela minha debatedora, para "dinamização quântica". Será que ela se referia às partículas sub-atômicas? Como se dinamiza um próton, um elétron, ou mesmo um quark, um múon ou coisa que o valha. Será necessário um acelerador de partículas? Energia, que tipo de energia? Térmica, cinética, elétrica ou magnética? Elástica talvez ou ainda gravitacional? Não, diz a debatente, outro tipo de energia que a ciência não conhece... Hein!? Como assim não conhece? Energia é um conceito muito bem definido dentro da ciência. Moléculas que se partem liberam energia térmica ou, no máximo e perdoem a minha ignorância, energia eletromagnética na forma de luz. Será que ela se referia ao processo de fervura da água? De fato água fervida é bom para um monte de coisas... Insistindo em saber os mecanismos e, numa tarefa quase insana, procurando desatar esse nó de incongruências, permaneci indagando acerca da "fisiologia da homeopatia" até que fui interrompido pelo clássico muro da superstição: "isso está além dos domínios da ciência atual".

Aí a conversa fica difícil mesmo. Se está, de fato, além da ciência, por que os homeopatas insistem em dizer que se trata de uma nova ciência? Por que não assumem que se trata de uma questão de fé e ponto final? Para mim, tudo faz parte do processo de mistificação que, hajamos de convir, tem funcionado. Nesse momento, fui agraciado com a seguinte pérola da incoerência: mas há evidências científicas (pensei que não era da alçada da ciência). Eu, buscando copiar o exemplo do velho professor e sua antiga teoria errada, disse: "maravilha, quais são elas, ondes estão, quais são esse estudos, quero vê-los!" A resposta era a homeopatia administrada em seres humanos e animais (?) dava resultado. Eu duvidei, naturalmente e disse que isso não provava nada, pois poderia ser outro efeito não controlado, como o placebo. Mas, exatamente por ter lido pouco, pedi que me enumerassem estudos com os quais eu poderia me informar e as respostas foram avasivas. Insisti em um nome e recebi a outra clássica da pseudo-ciência: "não tenho que provar nada a você".

Na hora, concordei com o fato de que não era a obrigação da outra parte do debate. Hoje, pensando duas vezes, eu deveria ter dito: errado, você tem que provar sim, você está ganhando dinheiro com isso. Essa prática envolve a vida de pessoas, sua saúde e sua qualidade de vida. Se eu começasse a vender fadinhas engarrafadas para tratar todo o tipo de doença e trazer sorte e riqueza, seria imediatamente solicitado, pelo próprio CRM, a interromper a minha atividade e a prestar esclarecimento sobre essa "terapêutica". Se me recusasse a fazê-lo ou a interromper o meu negócio, seria certamente processado ou mesmo preso.

Mas, infelizmente não disse isso, mas não foi de todo mal, pois que a conversa não parou por aí e esse argumento isolado não ajudou muito a minha debatedora. Permaneci insistindo em um nome, de algum pesquisador que tivesse feito o estudo e, ao final de tudo, recebi o seguinte nome: Matheus Marim. Pois bem, vamos aos estudos. Uma busca no pubmed retorna um único resultado: um artigo plubicado em 2007, no número 1 do volume 96 da revista Homeopathy (págs 4 a 16) e se intitula "A systematic review of the quality of homeopathic pathogenetic trials published from 1945 to 1995" (Marim não é o primeiro e nem o último autor). Trata-se de uma revisão da literatura acerca de artigos experimentais em homeopatia e, segundo os próprios autores: "The central question of whether homeopathic medicines in high dilutions can provoke effects in healthy volunteers has not yet been definitively answered, because of methodological weaknesses of the reports. Improvement of the method and reporting of results of HPTs are required." Eu me pergunto seriamente se esses autores acreditavam estar defendendo a homeopatia com esse artigo, quando na verdade davam um tiro no próprio pé. Um detalhe importante: a revista Homeopathy NÃO É analisada pelo Journal of Citation Reports e, portanto, não tem fator de impacto.

Procurando no google sobre o tal do Mairim, descubro que ele é médico e que, além de presidir e participar de uma série de congressos de homeopatia, ele faz parte de duas organizações: a Liga Medicorum Homoeopathica Internationalis e o WHO Working Group on Evidence Base for Homeopathy. Em um dos sites que eu encontrei o seu nome, o da homeopatia veterinária:
há uma carta dele ao "que assina pelo The Lancet". Particularmente interessante é o fato de ele responder em português a um sujeito que não fala nossa língua. Ele se refere a um artigo de 2005 publicada na respeitadíssima revista The Lancet mostrando a falácia que é a homeopatia. O artigo intitula-se "Are the clinical effects of homoeopathy placebo effects? Comparative study of placebo-controlled trials of homoeopathy and allopathy", número 2 do volume 366 de 27 de agosto de 2005 e, basicamente mostra que o efeito da homeopatia tem poder comparável apenas ao próprio efeito placebo. O próprio Matheus parece concordar com isso e escreve:
"O trabalho feito por Shang, Müntener, Nartey, Jüni, Dörig, Sterne, Pewsner e Egger demonstrou algo que todos os homeopatas que exercem a Homeopatia dentro de sua episteme já estão cansados de saber: que os medicamentos homeopáticos quando prescritos para doenças têm desempenho igual ao placebo, apenas superam ligeiramente a performance do placebo quando entre os pacientes estudados houver um ou outro doente que tenha o seu medicamento individual entre aqueles que estão sendo utilizados no experimento."

Isso era para defender a homeopatia??? Ele continua e se explica (será mesmo?):

"A equipe de epidemiologistas trabalhou bem, fez um bom trabalho dentro daquilo que sabem fazer: analisar ensaios clínicos que objetivam demonstrar eficácia de medicamentos em doenças, episteme que não é a Homeopática. A episteme homeopática está em trabalhar o doente com suas doenças. Quem não trabalha bem são os pesquisadores homeopatas que insistem em tentar demonstrar que a Homeopatia atua quando prescrita para doenças. Como isso não é verdade ... nada conseguem provar mas acreditam tê-lo feito por causa de alguns bias presentes em suas pesquisas."

Que esquiva covarde e medíocre! Separar o doente da doença como se tivesse algum sentido para um tratamento. O que é o doente? Qual o seu domínio e definição? É o seu corpo (na minha opinião, o entendimento mais comum)? Nesse caso ele é doença também, pois que algum parte de si não funciona bem e, portanto, o tratamento que trata da doença trata do doente. Como a homeopatia, segundo o próprio Marim, não age na doença, se o doente é corpo, a homeopatia não funciona. Não, ele é espírito! Nesse caso homeopatia é religião e ponto final. Aí é outra falácia que eu já não vou falar aqui. Então o doente é mente? Se for, o tratamento no máximo possibilita o efeito psicossomático do placebo. Portanto, as únicas alternativas para a homeopatia são: ou é religião, ou é placebo, ou não funciona.

E em falando de religião, um último ponto consiste em observar como a homeopatia está sempre relacionada com rituais superticiosos ou religião. É interessante ver como que a medicação homeopática encontra guarida nas práticas religiosos. É muito comum nos sitemas de crença espiritualista, pseudo-científicas, como, por exemplo, no espiritismo, religião que tenho conhecimento, pois militei nela por sete anos. Por outro lado, a homeopatia parece a reclicagem industrial pseudo-científica de uma velha idéia, a idéia do talismã: um objeto comum cujo efeito e poder são milagrosamente expandidos por forças espirituais canalizadas através um representante maior da religião. É assim com a água benta benzida pelo padre do catolicismo e é assim com a água fluidificada pelo médium no espiritismo. Tenho certeza que um estudioso da religião encontrará uma série de análogos em outros sistemas de fé.

Enfim, já cansei de escrever e, para mim, já é óbvio a falácia supersticiosa de que se trata a homeopatia. É patente a convardia dessa superstição que constantemente se esquiva em expliações etérias, abstratas e vagas, quase esfumaçantes, mas crivada de valores furtados da ciência real e honesta mal empregados como adornos dessa pseudo-ciência. Quem quiser continuar dando dinheiro para os modernos e sofisticados charlatães, fique à vontade. Eu tô fora, dou mais valor aos meus suados reais de cientista brasileiro. Prefiro uma ampola de 600 ml de cevada. Pelo menos, para a cabeça ela faz bem.


Vinícius

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A consolidação de uma nova era

Caros amigos,

confesso que é irresistível o apelo do racionalismo. Sinto-me inigualavelmente livre e destemido. Por que? Porque me libertei das amarras da supertição. Mas esse é um papo longo que estou desenvolvendo aqui. Aliás, fico sem fôlego ao ver quanto coisa eu ainda tenho para escrever nesse blog para mostrar o caminho até essa nova era pessoal, que a cada dia se consolida mais e mais, fundamentada no mais brilhante raciocínio lógico.

Dessa maneira, esse blog ganha mais umas entradas. Um novo livro, que ainda estou lendo: Deus - um delírio de Richard Dawkins. Três novos links: The Richard Dawkins Foundation, The Rational Response Squad (ainda mando eu vídeo para o Blasphemy Challenge) e Ateus do Brasil. E por fim, três símbolos que se tornarão ícones por aqui (a mais acima e estas daqui):


Por fim, essa tattoo é sensacional:


Forte abraço!
Vinícius

terça-feira, 20 de maio de 2008

Analfabetismo científico e fundamentalismo ecológico

Caros
O post abaixo é a réplica de um comentário feito pela jornalista Andréa Brock no fórum da revista Galileu, na ocasião de uma polêmica matéria sobre experimentação animal. Veja os comentários iniciais no post anterior "Especismo, fundamentalismo ecológico e experimentação animal.
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Não Andréa, não basta, preciso de muito mais. A discussão precisa de muito mais. E é disso que estou falando o tempo todo: a ignorância, o clichê e o sentimentalismo barato permeiam essa discussão tão importante e eminentemente técnica. É patente o seu desconhecimento acerca das técnicas usadas na ciência. Vamos do início. 1) Pesquisa in vitro: de onde você acha que vêm os tecidos quando se trata de sistemas completos, como uma porção específica do sistema nervoso central para estudos eletrofisiológicos? Se, por outro lado, trata-se de uma cultura de células, é necessário um doador original de qualquer forma. Mas mais importante, a pesquisa feita com as células permite descoberta acerca de... células! Nunca de organismos inteiros, uma vez que células isoladas se comportam de maneiras diferentes de quando inseridas em seus sistemas. Qualquer extrapolação deve ser feita com imenso cuidado. Você mesma (ou outro internauta) mencionou que drogas se comportam de maneiras diversas em espécies diversas e você propõe testar a complexa reação fisiológica a um medicamento em uma cultura de células? Ou no caso do item 7, em um sistema computacional??? Reflita um pouco e você compreenderá que animais como os ratos estão entre os melhores miméticos da fisiologia humana (juntamente com gatos, cachorros e macacos) e, num exercício do óbvio ululante, são infinitamente mais semelhantes que o mais poderoso sistema computacional (ou modelo matemático no qual o sistema se baseia - portanto sendo exatamente a mesma coisa os itens 7 e 8, mas que a nossa colega colega trata como coisas diferentes). Imagino as bulas dos remédios: Computrina memorex: indicado para simulações computacionais de enxaqueca e dores de cabeça. Contra-indicado em caso de menos de 10 GB disponível de disco rígido. Foram relatados Memory Dump em alguns casos. Sistemas computacionais simuladores baseados em modelos matemáticos do funcionamento dos organismos são importantes ferramentas científicas que confirmam dados, tendo sim o potencial de predizer, quando muito bem elaborados e utilizados, resultados da experimentação animal. A sua grande vantagem é a possibilidade de contornar o fator tempo da experimentação animal ou outros fatores inviáveis de se reproduzir em laboratório, tais como as condições ambientais nos primórdios da vida. Entretanto, essa técnica tem limitação importantíssimas. A primeira é que você só é capaz de gerar um modelo se você conhece algo do sistema a priori! É obvio! É evidente! Mais ainda, se o que se sabe é limitado demais ou está errado, a simulação falha em predizer as respostas do sistema fisiológico. Portanto sistemas computacionais nunca substituirão a experimentação animal.

2) Cromatografia e espectrometria de massa? Meu Deus, quanto clichê! De fato essa maravilhosa técnica nos permite identificar compostos presentes em uma determinada solução segundo sua resposta espectral a um estímulo luminoso. E daí? O que isso resolve isoladamente? Para começar você emprega essas técnicas para detectar compostos presentes em fluidos extraídos dos seres vivos. Depois, como é possível identificar, por exemplo, compostos sintetizados ou degradados em situações de estresse, seu material for coletado de um animal que não foi submetido a essa situação e, portanto, não metabolizou e nem sintetizou os tais compostos???

Eu me recuso a comentar o item 3 "Farmacologia e mecânica quânticas (de onde vem o plural aqui? Farmacologia quântica?)" que nem técnicas são e sim disciplinas da ciência.

Os itens 4 e 5 são exatamente a mesma coisa e representam o super-conjunto do qual 6 faz parte como método investigativo complementar. São, de fato, uma importante ferramenta para o estudo de doenças. Mas os achados nesse caso são sobretudo correlacionais e não causais. Por definição essa técnica não investiga mecanismos básicos da patologia (muito menos da fisiologia). Na verdade, ela é muito importante no sentido de sugerir caminhos a serem investigados pela pesquisa básica, indicando possíveis fatores causadores das doenças e estratégias de saúde pública. Entretanto, pela própria limitação da técnica, há um risco enorme de erros crassos de causalidade. Vai um exemplo brincalhão: você identifica que 9 meses após o carnaval há um aumento no número de nascimentos de crianças de uma determinada região do país, onde, exatamente no período do carnaval, é época de uma determinada fruta. Você então começa a tratar mulheres com problemas de fertilidade com a fruta? É claro que o exemplo é exagerado e os epidemiologista nunca concluiriam isso. Mas eles também não se atreveriam a descartar de pronto a fruta e nem a concluir que se trata da liberalidade sexual presente nas festas populares. Eles proporiam os seguintes experimentos: A) forneça a fruta a um grupo de indivíduos que não freqüentam festas de carnaval de maneira alguma, B) forneça a fruta num período diverso dessa festa e C) retire a fruta da alimentação de outro grupo que têm um comportamento sexual mais desregrado (sem preconceito hein!?) e veja em qual grupo há maior incidência de nascimentos de bebês.

O item 9 também é óbvio demais par ser comentado. O item 10 chega a ser uma piada. Se você considera o seu cérebro semelhante o suficiente a uma placenta, de maneira a permitir que lhe façam uma neurocirurgia com o treinamento nesse tecido, essa é uma escolha sua e aí eu não posso mesmo interferir - já eu dou mais valor aos meus neurônios. O item 11 é similar aos 7 e 8 e se trata de uma aproximação limitada de uma pequena parcela da complexa fisiologia humana. No item 12, imagino que você se refira, sobretudo a áreas como a bioinformática, por exemplo, uma vez que boa parte das pesquisas genéticas implicam na criação de mutantes que, dentre outras condições, muitas vezes mimetizam patologias humanas, portanto representando experimentação animal. Pois bem, disciplinas como a bioinformática dependem de dados coletados da experimentação animal. De onde você acha que veio os vários genomas já seqüenciados se não das amostras dos tecidos? E os dados da expressão gênica presente em patologia como o câncer ou desordens neurológicas? De onde você acha que vem a informação da função de um gene ou de sua proteína de forma geral, informação tão importante na bioinformática? A conformação estrutural quaternária das proteínas de fato, sugere muito sobre a sua função biológica, mas de forma alguma encerra o problema. O mecanismo da vida é simplesmente complicado demais. Mais grave ainda, prever computacionalmente a conformação estrutural da proteína a partir da seqüência de aminoácidos é ainda em problema em aberto na ciência, e talvez, permaneça sempre assim, por se tratar, possivelmente, de um problema "ill posed".

Enfim, concordo que há alternativas para a experimentação (nunca discordei disso e nem discorda a comunidade científica séria), mas nenhuma delas foi capaz de substituir à altura a experimentação animal. Os métodos citados são todos, sem exceção, muito valiosos e são amplamente empregados na academia. Entretanto, dizer que evoluiremos no conhecimento do mundo natural que nos rodeia e permeia, usando apenas esse conjunto de ferramenta, é um reducionismo simplista próprio do analfabetismo científico exemplificado de forma prática neste fórum.

Especismo, fundamentalismo ecológico e experimentação animal

Caríssimos,

O debate sobre o uso de animais na experimentação animal se acirra a cada dia que passa. Por um longo tempo me abstive de formalizar minha opinião. Recentemente, entretanto, a revista Galileu soltou uma matéria de qualidade no mínimo duvidosa a respeito do tema. Fui conferir o debate no ambiente virtual dos comentários online dos internautas leitores da revista e aí não pude me conter. Considerei quase criminoso permanecer calado sobre a situação. De qualquer forma, segue abaixo minha réplica a outro internauta que, como eu, já vinha participando há mais tempo do referido debate. Após esta entrada (Sobre o especismo), reproduzo minhas primeiras colocações e as réplicas de outros internautas, sem qualquer tipo de edição.
Eu não sei se exagero - acho que não nesses tempos de estupidez endêmica - em frisar que este blog contém opiniões de caráter pessoal e não necessariamente representam o posicionamento ideológico das instituições às quais estou ligado.

Abraços!

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Bom, estão parece que a questão se resume ao especismo. Vamos então discutir friamente o especismo, com o rigor da lógica e dos fatos, conforme exige a seriedade do tema. O que é então o especismo? Apesar do meu editor de texto não reconhecer a palavra, de acordo com o Wikipedia se trata de um neologismo que significa a discriminação de seres baseados em suas espécies assim como o racismo discrimina indivíduos com base na cor da pele ou numa alegada “raça” ou o sexismo o faz com base no gênero do indivíduo. Como disse um outro internauta, é nos sentirmos superiores aos animais a ponto de submetê-los a sofrimento para nosso benefício, assim como faziam os escravagistas. Ou, em termos mais científicos e específicos do debate, é a espécie Homo sapiens se sentir superior à espécie Rattus norvegicus ou à Mus musculus.

Comecemos a desenvolver nosso raciocínio considerando o sentido da palavra e, sendo o especismo alegadamente errado (“[] chega de especismo”), devemos ser não especistas e, portanto, necessariamente, considerar indivíduos de outras espécies como nossos semelhantes. Isso é uma verdadeira dicotomia, sendo que a única alternativa restante é nos considerarmos inferiores aos animais, caso em que voltamos a ser especistas, mas no sentido contrário. Portanto, na premissa não especista, se não somos superiores e muito menos inferiores, devemos concluir que indivíduos de outras espécies são nosso semelhantes.

Bom, façamos um trabalho mental e vamos imaginar um mundo não especista. Mas não especista de verdade. Em primeiro lugar, para ser um não especista, é necessário que sejamos todos vegetarianos, pois assassinar semelhantes nossos para nos alimentarmos de sua carne é certamente, numa sociedade não especista, um crime brutal e primitivo. Na perspectiva não especista, comer carne de boi, frango ou peixe é simplesmente canibalismo e, portanto, inaceitável – creio que alguns ativistas mais radicais dirão que, de fato, devemos nos tornar vegetarianos. Entretanto, para levarmos a sério a filosofia não-especista, deveríamos ser vegetarianos radicais, que não consomem sequer derivados de animais, tais como queijo, leite, ovos, etc. E pela simples razão de que não é justo confinar e escravizar nossos semelhantes para que possamos nos alimentar. É tão injusto e cruel como uma hipotética sociedade primitiva manter dezenas de mulheres adultas da tribo rival em cativeiro, com direito apenas à uma ração básica, das quais se toma forçadamente o leite de suas mamas diariamente e, mais ainda, afastando as crianças de seu convívio para que ela não consumam o leite destinado aos indivíduos da tribo dominadora. Portanto, nada de leite, ovos ou coisa que o valha, só vegetais mesmo. Afinal de contas, não há nada que os seres humanos comam de origem animal que seja espontaneamente e de livre vontade doado pelos os animais.

Mesmo no caso de sermos vegetarianos radiais, permanece uma questão importante, que deve ser levantada: qual o domínio taxonômico do especismo? É todo ser vivo? Se for, nem vegetariano pode; a gente tem que dar um jeito rápido de aprender a viver de luz ou inventar umas receitas de sopa de pedra, porque, nesse caso, arrancar um pezinho de alface é igual submeter um irmão à guilhotina. Se o domínio for o reino animal e não o vegetal, então você é um assassino frio e sanguinário quando esmaga a barata que invade a sua dispensa ou um genocida quando usa um Baygon para eliminar uma infestação de formigas na sua casa. Afinal de contas são nossos semelhantes, não são!? Ou seja, nem mesmo o domínio do especismo dado conforme a presença ou não de um sistema nervoso seria aplicável.

Saindo do ilustrativo absurdo, busquemos um domínio mais inteligente, oriundo de evidências da neurociência (a maioria delas coletadas com experimentação animal): nossos semelhantes em uma sociedade não especista são, portanto, apenas os seres vivos do reino animal dotados de sistema nervoso central e, em particular de neocórtex. Isso é bem mais coerente, pois tal estrutura encefálica tem sido sistematicamente correlacionada com funções superiores da psique tais como memória, raciocínio lógico-matemático, emoções e mesmo consciência (apesar de que a existência desta em animais é muitíssimo discutível, mas deixemos essa polêmica para outra hora). Bom isso nos deixa com um número bem mais limitado de seres vivos, deixando de fora uma considerável parcela das espécies usadas na experimentação animal – em tempo: é interessante como as bases mais sólidas da ética do convívio homem - animal provém da própria ciência experimental.

Ainda restariam animais como os roedores, os felinos e os primatas. Isso nos leva a outro exercício mental. Imagine a seguinte situação: devido a uma forte nevasca, você ficou preso em uma cabana nas montanhas. As portas e janelas estão cobertas de neve e você não pode sair, mas você tem o seu telefone celular que ainda funciona. Você liga para o resgate e eles te informam que conseguirão chegar até você em aproximadamente dez dias, pois a situação é gravíssima em todo o país (é o efeito estufa, dizem eles). Eles te pedem paciência e que tente sobreviver com o que há disponível na casa. Você faz uma busca e descobre que há água suficiente e alguns poucos litros de leite e mais nada. Sendo saudável, você acredita que com o repouso e aquecimento devido, você conseguirá sobreviver. Mas aí, surge uma nova circunstância que complica gravemente a situação. Você escuta um choro de criança em um cômodo adjacente e descobre um bebê de menos de um ano de idade, bem aquecido em um berço confortável, mas totalmente desamparado. No chão do cômodo está também uma mulher, já morta, semi-soterrada pela neve que desabou de um canto do teto. Parece ser a mãe que morreu congelada ao ser dominada pela neve. Você rapidamente toma a criança nas mãos, buscando verificar a sua integridade física e descobre que, apesar de estar bem de saúde, ela chora de fome. Corre então para a cozinha para servir ao bebê um pouco do alimento necessário, enquanto calcula que, apesar de significar uma dose quase insuportável de sacrifício extra, você será capaz de salvar aquela vida se abrir mão de boa parte do leite. É possível, afinal a sua condição atlética lhe permite isso e o seu altruísmo lhe dará as forças necessárias para esse objetivo. Mas chegando lá, você descobre mais um sobrevivente na cabana: o gato da família...

Bom, você já viu onde eu quero chegar, não!? Pois é, você, sinceramente, abriria mão da sua cota de alimento para dar ao gato? Ou ainda, você daria cotas iguais de leite para o bebê e para o gato? Pense bem... Se você respondeu “não” a qualquer das minhas perguntas, sinto muito, mas você é um especista e considera a espécie humana superior às outras espécies, mesmo considerando o tipo mais rigoroso de especismo: aquele contra animais providos de sistema nervoso central e neocórtex e, portanto, provavelmente sujeitos à dor e ao sofrimento. Não há como fugir disso, sinto muito. Por outro lado, se você respondeu que sim, que dividiria igualmente o alimento entre o bebê e o gato, você é um caso patológico e deveria ser submetido a tratamento urgente.

Se você ainda insiste que não é um doente mental por ter preferido salvar o gato em detrimento de maximizar as chances de sobrevivência do bebê, você há de concordar comigo que deveríamos alterar boa parte da nossa legislação para equiparar os direitos das espécies, mesmo em questões nada relacionadas à ciência. Primeiro, para te livrar da cadeia pelo crime hediondo de ter negligenciado as necessidades um ser humano totalmente indefeso. Em um segundo momento, uma enorme parte da indústria de alimentos deve ser imediatamente proibida e paralisada, pois são, na verdade, verdadeiras máquinas de tortura e assassinato em massa de nossos semelhantes, a réplica da Auschwitz animal. Isso implicaria, no mínimo na demissão de milhões de trabalhadores e num gravíssimo déficit de produção mundial de alimentos e, portanto, fome. Usar de animais para o trabalho, como no transporte ou na força policial é cruel escravagismo e deve ser imediatamente abolido. E não me venha dizer a bobagem de que nessas condições eles têm alimento e abrigo, já que eles sempre se viraram muito bem por milênios na natureza intacta. Esse argumento é idêntico ao dos coronéis escravocratas que afirmavam estar trazendo os negros para a luz da civilização branca, domesticando seus escravos como se fossem bichos na origem. Ainda nessa perspectiva, animais de estimação e zoológicos se tornariam uma verdadeira aberração, um circo de horrores. Onde já se viu, manter semelhantes nossos presos em cativeiro por conta de uma simples diversão pueril!? As cidades não poderiam mais crescer, nem mesmo para cima, pois qualquer nova habitação na terra no mar ou no ar é uma brutal invasão da propriedade dos nossos semelhantes, pois até no deserto de areia e de gelo há vida (bom, sempre tem a opção de nós irmos morar na lua, certo!?). Seguindo adiante no mar de absurdos que o não especismo nos franqueia, quaisquer endemias, tais como pestes de ratos ou primatas devem ser considerados fenômenos demográficos da vida moderna e nada mais. Eliminar a praga é que não pode, pois isso seria um genocídio.

O homem sempre se beneficiou da vida animal e vai continuar se beneficiando em muitos dos seus setores de atividade. A ciência é apenas mais um deles. Na verdade, a ciência difere drasticamente dos outros setores, pois nela há uma constante e real preocupação com o bem estar dos animais usados, incluindo os mecanismos de fiscalização no manuseio dos animais. Na ciência, o método escolhido é sempre aquele que minimiza o sofrimento dos animais, sendo que custo entra na equação em caráter simplesmente eliminatório (ou seja, se o custo do correto é proibitivo, não se adota o método). Na indústria de alimentos, por outro lado, o método é aquele que gera o maior lucro e ponto final. Mais ainda, a ciência é a mais importante mola propulsora do desenvolvimento humano, mantendo-se aberta sempre a novas idéias, inclusive aquelas que buscam diminuir o uso de animais em suas oficinas de trabalho. Existe, inclusive, a possibilidade de que no futuro a ciência deixe usar animais. A indústria de carnes, por outro lado, nunca deixará de usar animais na sua produção.

O especismo é brutalmente diferente de racismo, termo em que se inspirou o neologismo. É simplesmente estúpido e significa um verdadeiro desrespeito às vítimas do racismo querer comparar uma coisa com a outra. Primeiro porque raça não existe, isso é ciência e está mais do que estabelecido. A distância genética de um sujeito branco para um sujeito negro é menor do que a de um sujeito longilínio para um brevilínio e ambas imensamente menores do que a distância para o nosso parente mais próximo do reino animal. Espécies, por outro lado existem, com enormes diferenças entre si. Segundo, que a idéia do não especismo levada às vias de fato, em toda a sua concepção acarreta uma nova ordem social argumentavelmente insustentável. É uma verdadeira inocência e infâmia dizer que outras espécies animais são nossas semelhantes. Não são e, provavelmente, à exceção de São Francisco de Assis (discutível), ninguém vive o não especismo de verdade. Isso é simplesmente irreal e ilusório. Por fim, não ser não especista não significa uma doutrina de assassinato em massa de animais ou desrespeito pela vida animal. É simplesmente um conceito que justifica o uso da vida animal para benefício do homem, permeado do mais profundo senso moral e ético que são, por sinal, conquista exclusiva, friso, exclusiva da espécie humana. Aliás, só para descontrair um pouco, se a situação da cabana se invertesse, você realmente acredita que o gato iria dividir um pouquinho do seu leite com você?

Por fim, o que se conclui é que o fundamentalismo ecológico nas suas frentes contra a experimentação animal se trata, na verdade, de um ataque hipócrita e despreparado à ciência. Infelizmente é compreensível esse tipo de coisa num país que valoriza a ignorância e presta um culto quase religioso às bundas, peitos, chuteiras e dinheiro fácil. Estudo e dedicação ao conhecimento significam quase um delito moral, principalmente porque em nosso país isso significa abrir mão de maior conforto material. Surpreso? Sinceramente você é tão inocente assim? Faça, então, uma investigação, pesquise no Google: dentre todos os salários de servidores públicos federais com formação superior, os mais mau pagos são os dos professores das IFES (Insituição Federal de Ensino Superior), que se dedicaram intensamente a anos de estudos disciplinados, concorreram herculeamente contra colegas ultra-qualificados nos concursos públicos e hoje sobrevivem cientificamente fazendo milagres com os parcos recursos do financiamento público para pesquisa, soterrados sob pilhas de tarefas burocráticas e entraves logísticos.

Outro internauta soltou aqui o argumento de que cientista busca fama e prestígio. Isso é um estereótipo ridículo e infantil, oriundo no mínimo dos desenhos animados que mostravam aqueles doidos de cabelos desgrenhados em um castelo, criando quimeras e coisas do gênero. Fama? Isso é risível. Basta um exemplo prático para desconstruir essa idiotice: peça a qualquer cidadão não cientista (e muito provavelmente mesmo os cientistas) que, em três minutos nomeie, de cabeça, cinco ganhadores do Oscar e cinco ganhadores do prêmio Nobel (reconhecimento máximo da ciência mundial). Sinceramente, preciso dizer o resultado desse experimento social, mencionando em qual tarefa os cidadãos se sairão melhor? É óbvio que os contemplados com a estatueta dourada de Holywood dariam um chocolate nos cientista do Karolinska. Aliás, quantos sabem onde é feita a premiação do Nobel ou quantos já viram um discurso de recebimento do prêmio?

Portanto, vamos nos inteirar dos fatos antes de sair por aí balançando as floridas bandeiras da moda pseudo-vanguardistas e intelectualóides, sob pena de ficarmos em situação intelectual complicada e constrangedora. Abandonar o sentimentalismo falso e rasteiro, evitar os clichês e as frases de efeito, é imperativo para fazer o dever de casa: elaborar e validar a legislação de uso animal em experimentação científica, banindo para sempre os abusos cometidos por pares desprovidos de escrúpulos e consciência animal.

Legislação sim, fundamentalismo não!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Novas aquisições

Meus caros,

rapidamente quero citar dois novos e excelentes bens intelectuais e culturais que adquiri para minha modesta coleção psíquica.

Estou terminando de ler, talvez, a melhor obra não-literária em que já pus as mãos. Trata-se do livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios", de Carl Sagan. Tenho que confessar que estou descobrindo esse cosmólogo, provavelmente, o mais brilhante divulgador da ciência da história do planeta, só agora, mais de 10 anos após a sua morte. A grande maioria o conhece pela série Cosmos (que estou querendo dar um jeito de assitir), mas essa é só a faceta mais popular do cientista. Ao que me parece, os livros são tão (ou mais) empolgantes do que suas aparições na telinha. Por isso, essa obra entra, definitivamente para a minha coleção de livros prediletos. Na verdade, essa coleção que vocês podem ver aí ao lado está definindo, de maneira bem sólida e talvez definitiva, o meu caminho para o ceticismo ateísta, bem consciente, raciocinado, livre e pleno. Mas esse é um tema para outra postagem.

No lado cultural, descobri outra web radio excepcional no site da Live 365!. Dessa vez o estilo é pop rock, mas só coisa boa. Imagine os grandes hits todos juntos de: R.E.M., U2, The Cure, Coldplay, Red Hot Chilli Peppers, Green Day, Counting Crows, Live, Lemmon Heads, Pearl Jam, Jack Johnson e muito mais. A rádio se chama Roo Radio e quem quiser dar uma olhadinha em amostras de play list, siga para:

http://rooradio.blogspot.com/

Aquele abraço!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Março foi infernal

Março foi infernal. Como foi infernal. Foi um mês carregado de sobressaltos, sobressaltos ruins.

Comecei Março com o banco me cortando meu cheque especial. Devedor até as tampas como eu sabe a dor de cabeça que isso dá. Cortaram-me também a água do condomínio onde eu moro. Não por ter deixado de pagar, pois isso pago nos trinques. Quem não pagou foi o síndico, fugido, desaparecido, patético e surreal (golpe no condomínio, pelo amor de Deus!!!), deixando um calote de algumas dezenas de milhares de reais com a companhia de abastecimento de água e outros prestadores de serviço. Na verdade não cortaram, mas chegaram perto o suficiente para que fosse necessário reservar água em baldes, emprestar dinheiro ao condomínio para saldar a dívida e racionar água na área de lazer.

Nessa loucura despenca meu anjinho (minha filhinha de dois anos) com uma mononucleose infecciosa que lhe deixa com baço e fígado inchados, com risco de lesão e hemorragia interna. Resultado: quase três semanas fora da escolinha, além do incômodo de febres intermitentes, catarro, tosse e dores abdominais. Como tive que ficar com ela no horário da escolinha, durante todo esse tempo, a execução dos experimentos previstos em meu projeto se complicaram ao infinito, quase inviabilizando a sua conclusão. Aí já viu: lá se vão madrugadas em claro em cirurgias de implante de eletrodos e monitoração da eletrofisiologia de 24 horas.

Então, ela melhorou: maravilha! O médico a liberou para a escolinha para qual ela voltou essa semana, retornando ao porto seguro da rotina. Mas parecia que Março só esperava eu baixar a guarda para me pegar de novo na esquina. E pegou-me: minha tosse seca iniciada na semana anterior presenteia-me com o susto de catarro com sangue. Saldei às pressas as pendências do meu plano de saúde para descobrir uma sinusite, uma infecção pulmonar e suspeita adicional de pneumonia. E lá se vai mais uma grana com remédios... infernal.

Ah, quase ia me esquecendo: quase como um rodapé da demência de Março, trai-me um afeto por quem tanto fiz. Mas disso não quero e não vou falar. Só reforço que é óbvio que não se trata da mais companheira das maravilhosas mulheres da minha vida: minha esposa, cuja afeto, carinho, garra e companheirismo inspiraria avatares da conduta superior.

E hoje, quinta-feira, vou retornando do centro de radiologia tendo descoberto que, felizmente, pneumonia não há (terá sido a própolis diária?). Sinusite sim, há, plenamente incômoda. Vou voltando para casa e resolvo passar pela via costeira, que é uma bela avenida aqui em Natal que separa as praias de resorts do Parque das Dunas. Na rádio, toca uma balada incrivelmente tristonha e melancólica (eu sei que já ouvi essa voz em outra música: “I thought I would see you again”).

Resolvo parar para decidir no alto de um morro real, num cume metafórico: Natal não vai me quebrar. Há fibra suficiente aqui para agüentar. Ah, meus caros amigos, nada disse ainda sobre isso, mas Natal é ardilosa. É uma sacana princesa. Encanta-te com todas as curvas e gingas e, no meio ao místico instante no qual te atiras a ela de braços abertos, em meio a uma chegada mais quente, Natal te sacaneia e te trai com alguém mais abastado. Nem vos conto. Ou conto, mas só depois de amanhã (apud John, 2007).

De qualquer maneira, vou dobrar essa sacana. Vou até as vias de fato com essa gostosa princesa do nordeste, nem que tenha que lhe arrastar pelos cabelos. Sei que sou melhor que essa safada e os safados que lhe fazem o coito.

Aliás, descobri hoje, que meus experimentos conduzidos no meio do inferno trouxeram resultados empolgantes. Também acertei hoje meus ponteiros no banco, estando, agora, numa situação melhor do que antes. Há uma semana atrás preparei talvez, a minha melhor picanha para um casal de amigos valiosíssimos que me carregaram (e à minha família) no colo quando cheguei a Natal. Vou para casa agora, dar a meu corpo o que a alma já ganhou: um longo banho de água fresca.

Abraços!

Vinícius

terça-feira, 25 de março de 2008

Meu ótimo amigo Márcio

Olá meus caros,

que saudades tenho do meu grande amigo Márcio. Ele está agora na Inglaterra fazendo o seu pós-doc no King's College de Londres - sorte dos ingleses. Levou com ele o seu anjo, essa mulher maravilhosa e respeitável, com a sabedoria de uma anciã no sorriso jovial e gracioso de uma moleca que é. Muito provavelmente por isso, seu nome é Grace.

Enfim, para aqueles que não sabem, Márcio foi meu orientador da iniciação científica ao doutorado. Mas ainda mais importante que isso, no escopo intricado do meu eu atual, esse meu grande amigo representou o bater da asa da borboleta em Guiné Bissau que culminou no maremoto que devastou a costa leste do Japão. Para que se tenha a correta noção da coisa, foi esse velho espírito que me apresentou a poesia que dá nome a esse blog. E nos 6 anos pós Frost, fiz, com ele, meu doutorado etílico, elíptico e paralelo em interpretação da estrada escolhida, ou não.

Meu velho, nunca me esquecerei de ti, jamais.

E pra dar uma descontraída nesse tom às vezes meio saudoso, deixo com vocês o meu novo vício: Think Twice da banda Ralph Myerz and The Jack Herren Band. Nikita e Casino, do mesmo álbum, também são espetaculares.



Até!
Vinícius

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Revolução

Meus amigos,

Eu acredito, do fundo do meu coração, que estamos vivendo momentos históricos. Não quero aqui entrar na querela de quem tem o mérito ou não, mas penso que nosso país está passando por uma transformação que acabou de se iniciar e vai terminar quando a política estiver toda renovada. Ou seja, leva algumas décadas, mas o Brasil vai prosperar (opinião minha).

Por outro lado, podemos estar vivenciando a passagem do bastão das grandes potências. Com os BRICs chegando a todo o vapor, os EUA amargam uma crise, até onde eu sei, gravíssima, que pode atingir o mesmo nível de caos que se passou no final da década de 20. Em particular, fiquei impressionado com a forma na qual os críticos da política norte-americana tem se referido a crise. Acompanho as críticas de um autor em especial, o Pat Oliphant, que destila seu veneno através de tirinhas editoriais publicadas nos principais jornais da América e também na Internet.

Vejam o seu último cartum, publicado hoje no site da Yahoo:

BUSH: ... AND THAT'S THE STATE OF THE UNION. THANK YOU.

PERSONAGEM IRÔNICO À ESQUERDA: HELLUVA (HELL OF A) JOB, BUSHIE



O resto do cartum fala por si mesmo. É, terminando o post bem clichê: quem viver verá!


Abraços!
Vinícius

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Economia mundial

Caríssimos,

li essa tirinha hoje e achei bastante divertida. Acho que é o sentimento de todo mundo que investe no mercado de ações.




Um grande abraço!