Mais uma postagem co-gerada...
O fim, esse espelho
A relação do homem com o fim é, no mínimo, severamente convoluída. Frequentemente, ele é encarado com raiva, medo ou mesmo desespero. É o fim da noite, o fim do salário, a demissão, um relacionamento desfeito, o pôr do sol, a morte.
Mas eu voto por abraçarmos o fim.
Exceto aquele fim final — que é inevitável e talvez melhor encarado se esquecido —, os outros fins têm, na verdade, suas vantagens. Mesmo quando encerram coisas boas. O fim é o faxineiro da vida: leva o agora para abrir espaço ao depois. E também é o carrasco do presente, lembrando-nos do infinito valor de viver, de ser, de estar, de experimentar.
O fim colore o presente com tons de fugacidade e inevitável beleza. Tempera as vivências com o exótico sabor da hora que não volta mais. E é por isso que, se somos honestos, sabemos: é a finitude que nos ensina a plenitude.
Hoje, escuto as músicas que me costuram todos os tempos da minha vida. Elas sopram memórias como folhas ao vento. As fotos giram no meu coração, devagar, enquanto o vinho aquece o corpo e a alma. Pondero, com um nó doce na garganta, o fim desta jornada em particular.
A força da imensidão experimentada rompe a barragem dos olhos e a água transborda, não minto. Mas é bom. E está tudo bem.
É que chegar ao fim é a consequência inevitável de ter caminhado.
E eu caminhei.
Nem sempre em linha reta, é verdade. Houve tropeços, desvios, silêncio demais em algumas esquinas. Mas houve também descobertas, encontros, paisagens inesperadas. A cada passo, fui aprendendo que uma vida mais plena não se constrói com grandes eventos, mas com presença. Presença no agora, no outro, em si mesmo.
A finitude nos ensina isso com uma paciência feroz: cada instante conta. Cada olhar tem prazo. Cada afeto é uma chance única de tocar o mundo com verdade.
Chorei ao fechar esse ciclo porque estive dentro dele por inteiro. E ser inteiro, ainda que por pouco tempo, é uma forma profunda de vitória.
Por isso, levanto o copo — não por saudade, nem por tristeza, mas por gratidão.
O fim chegou. Que venha o próximo começo.
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